Quando no ano de 1999 foi
lançado O Sexto Sentido o seu diretor, M. Night Shyamalan, então com apenas 28
anos, foi considerado uma das promessas mais talentosas de Hollywood. Havia
motivos para o entusiasmo. O Sexto Sentido tinha um roteiro intrigante (do
próprio Shyamalan) que precisava de uma direção acurada e meticulosa para não
estragar a surpresa final, e o jovem indiano a tinha superado o desafio com
sucesso.
Os filmes imediatamente
posteriores que Shyamalan fez (Corpo Fechado, Sinais, A Vila) mantiveram essa
proposta de narrar uma história cuja premissa era disparatada, mas que se tornava
verossímil devido à habilidade que o diretor tinha para criar a estrutura
narrativa que pudesse sustentar o peso da loucura que apresentava. Lembremos
Corpo Fechado, por exemplo: um segurança depressivo se revelava um herói
invencível que não podia ser ferido nem morto, mas ele nunca tinha reparado
disso até se encontrar com seu oposto, um arqui-inimigo frágil e doente. Parece
loucura, é era, mas uma loucura bem bolada.
Entretanto, a cada novo
filme, a premissa ia se tornando cada vez mais absurda, e a tolerância do
espectador chegou a um limite a partir de A Dama D’Água, pois depois desse
filme a os delírios fantásticos e a pretensão apresentada não eram acompanhados
da antiga habilidade do diretor em narrar histórias convincentes.
A Visita, o ultimo trabalho
de Shyamalan, deve ser celebrado, pois se trata de um retorno ao estilo de seus
primeiros longas. Um pequeno conto de terror que também é de certa forma uma
comédia negra. Dois irmãos, uma adolescente que anseia ser documentarista e um
garoto com aspirações de ‘rapper’, vão visitar pela primeira vez seus avôs
maternos, os quais tinham cortado relações com a mãe dos meninos antes destes
nascerem. A casa dos coroas onde os
jovens passarão uma semana fica numa fazenda afastada da cidade, e eles logo
perceberão que as costumes de seus parentes são bastante perturbadoras,
especialmente a partir das 21:30h, horário em que é melhor não sair do quarto
de dormir.
Shyamalan adota o estilo
‘found footage’ para narrar sua fábula, de maneira tal que as únicas
imagens que vemos são as produzidas pela câmera da protagonista, que está
tentando fazer um documentário sobre a sua família. Esta modalidade, que se
revelou muito eficiente para histórias de horror a partir de “A Bruxa de
Blair”, produz alguns momentos de inquietação e sobressaltos, mas por vezes parece
forçada demais. É um subgênero que começa a mostrar sinais de esgotamento,
embora continue tendo um apelo significativo no público adolescente.
Todavia, recomendo não
assistir A Visita esperando ver um filme de terror, pois a frustração estará
garantida. Se trata, bem mais, de uma sátira de terror. Uma adaptação, muito
livre e tenebrosa, do velho conto de João e Maria, aquele onde os dois irmãos
se deixavam seduzir por uma anciã e a sua casinha de doces. Shyamalan pega
daquela estória a ideia da confrontação entre a inocência da juventude e a perversão
da velhice, alertando também à criançada acerca de como podem ser
demenciais certos relacionamentos familiares, quando se prefere o orgulho ao
amor. Um defeito que, esperamos, o próprio Shyamalan
parece ter corrigido da sua filmografia.
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