Quando o Vitor Menezes conclama a combater aqueles que maldizem Campos, o que na realidade está pedindo não é a condena desses indivíduos, mas sim uma demonstração de que o campista ama sua cidade. O tamanho do desafio é enorme porque, na verdade, a cidade não tem muita coisa para ser querida. Feia e desprezada, ela possui poucos ou nenhum atributo para deixar os nativos orgulhosos. Não há mar nem morros, mas também não há urbanismo nem urbanidade. Mas a culpa não é dela.
Tudo bem que contra a geografia nada há pra se fazer. Campos nunca será uma Rio de Janeiro. Mas permitam-me aqui uma comparação bastante pertinente. Buenos Aires também foi erguida numa planície, à beira de um rio lamacento, numa área onde praticamente não existia uma árvore. Durante muitos anos foi uma aldeia sem graça nem atrativo (os fundadores a abandonaram durante 50 anos para ir morar em Assunção). Até que uma geração de homens, no fim do século XIX teve a coragem de transformá-la. Graças à prosperidade agropecuária, contrataram renomados paisagistas, arquitetos e escultores. Buenos Aires teve largas avenidas, boulevards, parques e monumentos. Até construiram um palácio para esconder as grandes caixas d'agua do serviço de saneamento. Existia nesses governantes uma visão de grandiosidade e uma consciência do que podia ser realizado que ultrapassava o enriquecimento pessoal ou as ambições políticas (estas duas não estavam ausentes, mas aparentemente a cobiça não era tão desavergonhada ao ponto de renunciar à transcendência) Foi naquele momento que se transformou na Paris de Sudamérica. Uma cidade que, segundo um autor francés, é a capital de um império que não existe.
Bastou uma geração de estadistas para mudar Buenos Aires. Os posteriores, com sua incompetência ou sua desídia, a vem destruindo aos poucos. Mas ela ainda agüenta com bastante dignidade.
Quem sabe algum dia apareçam em Campos os amantes que ela precisa. Os justiceiros de Vitor Menezes.
4 comentários:
Excelente texto, diria mesmo, urgente. Saudações!
Meus caros,
Me permita discordar, democraticamente...
Infelizmente, o texto do jornalista, que por absoluta falta de memória(eu acho)nenhuma menção faz aos jornalistas que querem a publicação do diário oficial sem licitação, como um dos péssimos hábitos dos "campistas", carece de sentido político prático...
É um belo manifesto do tipo "cansei", e só...
Conclama a "união" como se possível fosse um sentimento "uber alles" que desprezasse que erros e acertos na condução do futuro de nossas cidades são escolhas, e escolhas políticas, mediadas pelo conflito, pelo debate e aí sim, um possível consenso...
Não há justiceiros, e quando os há, o preço pago geralmente é alto demais para a democracia e para a cidadania...
Xacal, a utilização da palavra "justiceiros" corre exclusivamente por minha conta, e não tinha a intenção de se referir aos salvadores da pátria (ou da cidade) mas sim àqueles que tivessem a coragem de fazer de Campos um lugar mais agradável para viver. Tem mais a ver com fazer justiça com a história e o povo deste lugar; com personalidades com visão e ambição, num sentido institucional-arquitetônico-urbanístico.
E sem tentar me meter na vida dos outros, acho que o Vitor fez um texto do tipo "cansei", mesmo. Cansou daqueles que dizem o tempo todo estar cansados de Campos, enquanto eles mesmos são os culpados pela situação da cidade, por ação e omissão.
Olá, senhores. Minha intenção foi falar da nossa baixa auto-estima. Do modo como praguejamos a cidade sem efetivamente fazermos algo para mudá-la. Ou, ainda, do modo como consideramos serem apenas nossos os problemas que são comuns a milhares de outras cidades. No fundo, dizia um "cansei" para os "cansados", para usar um termo dito acima. Muito bom que a conversa tenha rendido aqui. Abração!
Postar um comentário