O escritor argentino Ernesto Sábato, autor de “Sobre Heróis e Tumbas” e “O Túnel”, era formado em física. Chegou a trabalhar no Instituto Curie, em Paris:
" Alguém me pede uma explicação da teoria da relatividade de Einstein. Muito empolgado, lhe falo de tensores e geodésicas tridimensionais.
- Não entendi uma palavra – me disse, espantado.
Reflito um instante e, com menos entusiasmo, dou-lhe uma explicação menos técnica, conservando algumas geodésicas, mas colocando aviadores e disparos de revolver.
- Entendi quase tudo – me disse o meu amigo, contente. - Mas tem uma coisa que ainda não captei: aquelas geodésicas, aquelas coordenadas...
Deprimido, me concentro mentalmente por um longo instante e acabo por desistir para sempre das geodésicas e das coordenadas; com verdadeira ferocidade, dedico-me exclusivamente a aviadores que fumam enquanto viajam na velocidade da luz, chefes de estação que disparam um revolver com a mão direita e conferem o tempo com o cronometro que tem na mão esquerda, trens e sinos.
- Agora sim! Agora entendi a relatividade!- anuncia o meu amigo com alegria.
- Pois é - respondo amargurado-, só que agora não é mais a relatividade."
Do livro de ensaios "Nós e o Universo"
Um comentário:
fino, humor fino.
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