sábado, 30 de abril de 2011

Ernesto Sábato - 1911-2011


Poucos romances me impactaram tanto quanto"Sobre Herois e Tumbas" de Ernesto Sábato. Talvez pela época em que o li, aos 20 anos: uma época em que ainda não estava preparado para entender a Borges (de todas formas, Borges nunca escreveu um romance, por achar que continha palavras demais).

Morreu aos 99 anos, na sua casa de Santos Lugares, vizinha de Buenos Aires. Deixo aqui, a maneira de homenagem, um fragmento do perturbador "Informe sobre Cegos" que pode ser lido na íntegra baixando este arquivo.

Imagem: Informe sobre Ciegos - ilustraciones de Alberto Breccia


[...]Lembro muito bem aquele 14 de junho: dia gélido e chuvoso. Vigiava o comportamento de um cego que trabalha no metrô em Palermo: um homem mais para baixo, sólido, tez morena, sumamente vigoroso e muito mal-educado; um homem que percorre os vagões com uma violência mal contida, oferecendo barbatanas, entre uma compacta massa de gente amontoada. No meio dessa multidão, o cego avança violenta e rancorosamente, com uma das mãos estendida onde recebe os tributos que, com sagrado receio, lhe oferecem os infelizes empregados de escritórios, enquanto com a outra mão guarda as barbatanas simbólicas: pois é impossível que alguém possa viver da venda real dessas pecinhas, já que alguém necessitará de um par de barbatanas por ano ou por mês: mas ninguém, louco ou milionário, pode comprar uma dezena por dia. De modo que, como é lógico, e todo mundo assim o compreende, as barbatanas são meramente simbólicas, algo como o distintivo do cego, uma espécie de bandeira de corsário que o distingue do resto dos mortais, além de seu célebre bastão branco. [...]


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