O canal Campos Macaé, no trecho urbano do centro de Campos, parece ser um reflexo da relação que o campista tem com o lugar que habita. Reflete, por um lado, o equívoco dos cidadãos esclarecidos, que preferiram a manutenção da vala por questões históricas, impedindo uma obra de cobertura que, sem julgar o mérito do governo que a promovia, era em teoria uma solução estética e prática que o senso comum exigia para acompanhar o crescimento da cidade.
Ou seja, se mobilizaram para deixar o canal do jeito que está, e quando o conseguiram, não continuaram a luta para revitalizá-lo. O que na pratica fizeram foi celebrar a perpetuação o esgoto a céu aberto como uma vitória.
Essa tática, a de impedir qualquer tipo de modificação de uma construção histórica como primeiro passo para protegê-la, até se poderia considerar aceitável se o prédio em questão tivesse tal relevância arquitetônica que a sua contemplação, uma vez restaurada, aportasse mais beleza ao entorno. Não é o caso do canal. Ele é feio, fétido e diferente do que os pobres escravos fizeram. Curiosamente, depois da Av. Nilo Peçanha, o canal continua por vários quilômetros (algo assim como 105), sem que nenhum ativista tenha se preocupado por aquele trecho.
Mas o canal reflete também de forma cristalina como o governo municipal respeita a inteligência da população campista. A atual obra de revitalização, que começou no inicio de 2010, parece ser, na melhor das hipóteses, uma mistura de incompetência e especulação política.
Quem passa pela obra de forma freqüente (isto é, todo mundo) percebe que ela marcha num ritmo próximo à imobilidade. As desculpas de que existia um trabalho de rebaixamento do lençol freático já não são suficientes para evitar ter a noção que alguma coisa errada está acontecendo. O segmento entre a Rua Formosa e Saldanha Marinho deveria, segundo a própria prefeitura, ter sido inaugurado no dia 28 de março. Hoje em dia, praticamente ninguém está trabalhando ali. A primeira coisa que se pensa é que estão adiando a finalização para uma data mais próxima às eleições do ano que vem, o que já seria um escândalo. Mas eu suspeito que eles, tanto a empreiteira quanto o governo municipal, não tem muita noção de como terminar o que prometeram, com o valor que licitaram.
Aliás, é bom lembrar que, ano passado, o Vitor Menezes recebeu da própria prefeitura a informação que o valor de 18 milhões era apenas para uma parte da obra, o que logo depois foi desmentido de forma indireta.
A obra original, aquela que apareceu nos desenhos furrecas, tinha jardins suspensos por cima do vão e arcos de sustentação. Como já faz algum tempo que não se fala mais deles, voltemos ao release do site da PMCG de março 2010:
Para uma obra que deveria ter sido entregue à população no mês de março passado, a constatação de que não há nenhum arco ainda instalado é sinal que alguma coisa, seja na política ou na engenharia, anda errada.
Mas não apenas preocupa o que não foi construído: o que se vê da calçada já realizada é uma ciclovia feita de segmentos convexos, que obrigará os ciclistas a continuarem veiculando na rua. Também se pode observar que as supostas vagas para estacionamento tiraram um valioso espaço de calçada, e ainda são pequenas demais para um carro normal ficar ali.
Resumindo, uma obra improvisada, mal feita, lenta e cara. Feita por um governo que não está nem ai para a opinião pública, porque o público que opina não faz parte do seu curral eleitoral.
Uma cidade que tem recursos para melhorar a qualidade de vida da sua população, mas onde quem deve fazer não faz, e quem deve controlar já desistiu há muito tempo.
Nessa altura, o desperdiço de dinheiro é de tal magnitude que, se não ofende aos campistas, deveria indignar a todos os brasileiros. Mais um motivo para torcer pela redistribuição dos royalties para todos os municípios do país.
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