O medo de que a dinastia Garotinho se perpetue no poder por muito mais de uma ou duas gestões levou grande parte dos opositores do deputado –não necessariamente a ‘oposição’- a colocar suas esperanças na Justiça. Mas, depois dos acontecimentos da última semana, já deveríamos ter percebido que são tantas e tão inescrutáveis as decisões, os despachos, as liminares, os recursos e as instâncias, que as possibilidades que Rosinha seja afastada são tantas quanto as de que continue no poder.
Nos últimos vinte anos a violência ceifou em Medellín umas setenta mil vidas. Em 1981 eram 381 homicidios por cada 100 mil habitantes – seis mil foram mortos em 1991- mas em 2007 o numero baixou a 26 por 100 mil. Como é que se foram encostando as portas do inferno até se fecharem?
Sergio Fajardo usa jeans e suéter, tem o cabelo alvorotado e não parece um político, talvez porque não o seja. Todavia, foi prefeito de Medellín (personagem de America Latina 2007 premiado pelo Financial Times) e candidato a governador de Antioquia em outubro. Na sala da sua casa há uma bicicleta velha pendurada na parede, e na entrada uma camiseta celeste é exibida desde um cabide: é a sua ‘camisa da sorte’. Fajardo é doutor e Matemáticas das universidades de Wisconsin-Madison e Bogotá.
-Depois de muitos anos, um grupos de amigos aqui em Medellin dissemos, “vamos morrer dizendo como deveria ser isto”. Nos interessava a sociedade, a olhávamos, a estudávamos, mas não tínhamos a coragem de mudá-la. Chegou um momento que pensamos: “É a política, gostemos ou não. São os políticos os que tomam as decisões mais importantes de uma sociedade”. Isso foi 12 anos atrás.
-Eram quantos naquele momento?
-Uns cinqüenta. E então fomos pela prefeitura de Medellín. Começamos a fazer política andando pelas ruas de Medellín. Parávamos gente nos sinais, entregávamos folhetos. Me diziam: Os pobres votam com o estomago, o senhor tem que lhes pagar, tem que ter lideranças em cada bairro”. Nos não pagamos ninguém em troca de votos. Falávamos uma lingugem diferente: “Nos não temos preço, temos dignidade”. Andar era de graça. E foi isso que fizemos, caminhar. E ai veio a primeira eleição.
- E como lhes foi?
-Zero por cento- Fajardo solta uma risada. Exagera, sabendo que na segunda eleição foi o candidato mais votado na historia da cidade.
- E o que você disse?
-Temos que repartir mais folhetos.
Aquele ‘zero por cento’ foram, na verdade, sessenta mil votos. O partido vencedor lhes ofereceu uma pequena parte do poder. Recusaram.
Fajardo chegou à prefeitura com uma idéia: fazer de Medellín ‘a cidade mais educada’: dedicou 40 % do orçamento municipal à educação.
- Partimos de uma premissa: O mais belo para os mais humildes. Era uma resposta à política de compra de votos, daqueles que acham que se vota com o estomago. São os que sustentam a teoria das migalhas: deem qualquer coisa a eles que já é lucro.
Nos espaços mais marginais da cidade construíram parques-bibliotecas. Não se trata de bibliotecas no sentido tradicional, embora também existam; nesses espaços construiram auditórios, centros de empreendimento, salas de computação, salas de jogos, salão para o bairro e para a memória, espaços da terceira –idade e um banco de oportunidades que empresta dinheiro a partir de 200 doláres; já entregaram 35 mil créditos com uma taxa de inadimplência de 3,5%, percentual que causaria inveja a qualquer banco ‘normal’. O projeto ‘Capital Semente’ entregou créditos de cinco mil dólares para pequenos empreendimentos, exigindo cursos obrigatórios de plano de negócios, contabilidade e formação de empresas.
- A qualidade da educação começa pela dignidade do espaço- garante Fajardo- Não houve um só ato de violência nos espaços que construímos. O que fizemos foi fechar a porta do trafico, enquanto, ao mesmo tempo, abríamos outras.
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