Passaram-se apenas 30 anos desde que o governo militar
argentino realizou um dos atos mais absurdos da história militar mundial: a
invasão às Malvinas. Contando com o amplo apoio da cidadania, o governo de fato
lançou a empreitada que custou a vida de centenares de jovens do norte argentino, muitos dos quais nunca tinham visto o
mar, e que não estavam preparados nem apetrechados adequadamente para combater
ninguém, muito menos a Inglaterra, 3ª
potencia militar na época.
Na verdade, e isto seja talvez o mais infame, tudo não
passou de uma perversa estratégia marqueteira; de uma idéia idiota de tentativa
de manter o apoio da população à ditadura. De fato, a grande maioria dos
argentinos apoiou a guerra, e muitos inclusive acreditaram que ela estava sendo
ganha até poucas horas antes da rendição, graças ao férreo controle que o
governo tinha dos meios de comunicação, na maioria nas mãos do Estado, mas
também a o fervoroso e ‘patriotico’ apoio de algumas revistas de grande
circulação, como a “Gente” , que não teve o menor escrúpulo em repercutir os
falsos partes de guerra que o governo emitia e ainda promovia a exaltação
chauvinista e mentirosa nas suas, agora, célebres capas:
Pois bem, resulta muito triste comprovar que, passados 30
anos, os argentinos parecem não ter aprendido nada. Novamente o governo, agora ‘progressista’,
se aproveita do assunto Malvinas para
preencher as lacunas de boas notícias, com reivindicações caducas e apelações
ao patriotismo que tanto dano fizeram ao nosso país. A qualquer país.
As Malvinas são tão argentinas quanto as Falklands são
inglesas. Sobre os argumentos argentinos para reclamá-las, disse o escritor
Martin Caparrós:
“As alegações para sustentar a ‘argentinidade’ das Malvinas
são curiosos. O mais sério é o geográfico: as ilhas estão na plataforma
continental argentina - embora, há de se convir, é provável que Inglaterra
esteja, da mesma forma, na plataforma continental francesa”.
“Existem lá, agora, uma população cujos ancestrais chegaram
muito antes que a grande maioria dos nossos antepassados ao desembarcar nas
nossas costas. Mas os ‘malvinistas’ dizem que aqueles senhores não tem direito
a decidir suas vidas porque “não são povos originários”. Não parece lhes
importar o detalhe que nós também não somos; que nós também chegamos e
ocupamos, e que essa plataforma continental que integra as ilhas à Argentina
faz parte de um território cujos “povos
originários” – de algum lugar- foram dizimados e despossuídos pelos exércitos de
ocupação argentinos muito depois que os ingleses povoaram as ilhas.”
O governo argentino fará um pronunciamento, daqui a algumas horas, em relação ao assunto
Malvinas. Para isso, convocou à ‘unidade nacional’ e muitos políticos da
oposição estarão presentes na Casa Rosada. Talvez seja para se vangloriar do
apoio que o resto dos países de America
Latina estão brindando a Argentina, ao bloquear a entrada de barcos com bandeira
das ilhas aos seus portos. Isto já está
gerando desabastecimento de frutas em Port Stanley, a cidade capital. Parece
que, nesse caso, o bloqueio é uma coisa
muito legal.
Não há a mínima possibilidade de uma novo conflito armado, felizmente. Mas
ainda assim, a historia argentina se repete como farsa. Termino citando ainda a
Caparrós:
“Fica difícil sustentar legitimidades históricas quando cada
historia começa com uma ocupação: por que seria uma mais legítima do que outra?
O que teríamos que analisar, dado o estado atual de cada processo, é qual a
solução mais justa, não para as pátrias, esses inventos sinistros, mas para as
pessoas.”
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