terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

As Malvinas são argentinas, mas as Falklands são inglesas


Passaram-se apenas 30 anos desde que o governo militar argentino realizou um dos atos mais absurdos da história militar mundial: a invasão às Malvinas. Contando com o amplo apoio da cidadania, o governo de fato lançou a empreitada que custou a vida  de centenares de jovens do norte argentino, muitos dos quais nunca tinham visto o mar, e que não estavam preparados nem apetrechados adequadamente para combater ninguém, muito menos a  Inglaterra, 3ª potencia militar na época.

Na verdade, e isto seja talvez o mais infame, tudo não passou de uma perversa estratégia marqueteira; de uma idéia idiota de tentativa de manter o apoio da população à ditadura. De fato, a grande maioria dos argentinos apoiou a guerra, e muitos inclusive acreditaram que ela estava sendo ganha até poucas horas antes da rendição, graças ao férreo controle que o governo tinha dos meios de comunicação, na maioria nas mãos do Estado, mas também a o fervoroso e ‘patriotico’ apoio de algumas revistas de grande circulação, como a “Gente” , que não teve o menor escrúpulo em repercutir os falsos partes de guerra que o governo emitia e ainda promovia a exaltação chauvinista e mentirosa nas suas, agora, célebres  capas:



Pois bem, resulta muito triste comprovar que, passados 30 anos, os argentinos parecem não ter aprendido nada. Novamente o governo, agora ‘progressista’,  se aproveita do assunto Malvinas para preencher as lacunas de boas notícias, com reivindicações caducas e apelações ao patriotismo que tanto dano fizeram ao nosso país. A qualquer país.
As Malvinas são tão argentinas quanto as Falklands são inglesas. Sobre os argumentos argentinos para reclamá-las, disse o escritor Martin Caparrós:

“As alegações para sustentar a ‘argentinidade’ das Malvinas são curiosos. O mais sério é o geográfico: as ilhas estão na plataforma continental argentina - embora, há de se convir, é provável que Inglaterra esteja, da mesma forma, na plataforma continental francesa”.
“Existem lá, agora, uma população cujos ancestrais chegaram muito antes que a grande maioria dos nossos antepassados ao desembarcar nas nossas costas. Mas os ‘malvinistas’ dizem que aqueles senhores não tem direito a decidir suas vidas porque “não são povos originários”. Não parece lhes importar o detalhe que nós também não somos; que nós também chegamos e ocupamos, e que essa plataforma continental que integra as ilhas à Argentina faz parte de um território  cujos “povos originários” – de algum lugar- foram dizimados e despossuídos pelos exércitos de ocupação argentinos muito depois que os ingleses povoaram as ilhas.”

O governo argentino fará um pronunciamento, daqui a algumas horas, em relação ao assunto Malvinas. Para isso, convocou à ‘unidade nacional’ e muitos políticos da oposição estarão presentes na Casa Rosada. Talvez seja para se vangloriar do apoio que o resto dos países  de America Latina estão brindando a Argentina, ao bloquear a entrada de barcos com bandeira das ilhas aos seus portos. Isto já está gerando desabastecimento de frutas em Port Stanley, a cidade capital. Parece que,  nesse caso, o bloqueio é uma coisa muito legal.

Não há a mínima possibilidade de  uma novo conflito armado, felizmente. Mas ainda assim, a historia argentina se repete como farsa. Termino citando ainda a Caparrós:

“Fica difícil sustentar legitimidades históricas quando cada historia começa com uma ocupação: por que seria uma mais legítima do que outra? O que teríamos que analisar, dado o estado atual de cada processo, é qual a solução mais justa, não para as pátrias, esses inventos sinistros, mas para as pessoas.”

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