segunda-feira, 26 de março de 2012

A Arquitetura Garotista


Tiro a poeira deste blog apenas brevemente para falar um pouco sobre o CEPOP - Centro de Eventos Populares Osório Peixoto.

O sambódromo vai contar com um palco fixo que, segundo a propaganda oficial, será o maior da América Latina. Certamente, trata-se de uma construção bastante imponente e que chama mais a atenção do que as arquibancadas de cimento. Curiosamente, esse cenário nunca foi anunciado à época do começo das obras. Vejam esta foto do projeto original, sendo apresentado pela prefeita, há mais ou menos dois anos atrás:

(Apresentação do Cepop, em 2010. Cadê o palco gigante?)


Se o maior palco da América Latina não figurava no projeto inicial, caberia se perguntar: O custo da obra, de 69 milhões, quando não incluia ele, era exagerado? Será que agora, com o palco, o Cepop vale o que custou? Ou foi um presente da construtora, sem ônus para a prefeitura?

Seja como for, uma outra questão bem mais importante, se me apresenta: para quê fazer o maior palco da América Latina? Para mostrar o quê, perante quem? Segundo o engenheiro responsável pela obra, trata-se de "um palco com 33 metros de diâmetro e 17 metros de altura do piso ao teto, e área ao entorno dele cabe cerca de 30 mil pessoas”.

30 mil pessoas, para o maior palco da América Latina não está um pouco desproporcionado? Alguém responderá: 30 mil pessoas é a média de público que uma cidade do porte de Campos comporta num grande espetáculo. Então replico: para quê se vangloriar do tamanho do palco? Apenas para mostrar que a atual administração o conseguiu fazer? Não é muito mérito para uma cidade que tem 2 bilhões de receita. Se quisessem continuar a quebrar recordes, as mentes criativas do governo Rosinha poderia bolar outras muitas obras faraônicas, tipo as que aparecem na cidade dos Simpsons, Springfield.

Springfield, cidade irmã de Campos dos Goytacazes, com o seu monotrilho, sua lupa gigante
e sua altíssima escada rodante para a nada.

(Em um dos episódios mais memoráveis dos Simpsons, a prefeitura de Springfield usa uma enorme quantia dos cofres públicos para instalar na cidade um trem de superfície caríssimo: basicamente inútil e perigoso. Ironicamente, na cena final um narrador comemora que a população aprendeu sua lição e jamais gastaria o dinheiro público com projetos absurdos novamente. Mas a imagem que vemos é de uma enorme escada rolante que não leva a lugar nenhum.)

Acaso os campistas não ficariam mais orgulhosos se pudessem ostentar outros recordes, como ter as melhores escolas e hospitais da América Latina? O melhor parque urbano? O melhor transporte coletivo? Fazer um palco gigante é fácil: basta torrar dinheiro.

Nessa altura, já podemos falar de uma 'arquitetura garotista' que se perfila ao analisar suas grandes obras: O Índio do Trevo; a Ponte Rosinha-Brizola; a Beira Valão*; o CEPOP - monumentos brutos, bregas e desnecessários. E sempre caros, muito caros.



*pode se incluir na lista a Praça São Salvador, criada por um garotista renegado (por enquanto).




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