domingo, 5 de julho de 2009

A do pirata zarolho - Joaquim Sabina

Não sou um cara de choramingar

Daqueles que reclamam por tudo

Se a vida deixar, eu lhe passo a mão

E se não, eu me viro sozinho


E como é grátis sonhar

E não acredito na reencarnação

Com um pouco de imaginação

Partirei de viagem logo

Pra vivir outras vidas

Pra experimentar outros nomes

Pra enfiarme no terno e na pele

De todos os homens

Que nunca serei:


Al Capone em Chicago - Legionário em MelillA -Pintor em Montparnasse

Mercader em Damasco - Carregador em Sevilha - Negro em Nova Orleans

Velho safado em Sodoma - Exilado em Sibéria - Sultão num harém

Policial, nem de brincadeira - Vencedor numa feira - Cigano em Jerez

Trapaceiro em Montecarlo - Cigarro em tua boca - Taxista em Nova York

Confesor da rainha - Toureiro em Cadiz - Barman em Dublin

Comunista em Las Vegas - Afogado no Titanic - Flautista em Hamelin

Jogador de sinuca - Rebelde no Céu - Dono de um Cabaret

Arranhão em tuas costas - Tenor em Rigoletto - Pianista de bordel

Bongoseiro em La Havana - Casanova em Veneza - Ancião em Shangri-lá

Morfinômano na China - Desertor numa guerra - Boxeador em Detroit

Caçador na Índia - Marinheiro em Marselha - Fotografo na Playboy


Mas se pudesse eleger

Entre todas as vidas, eu escolho

a do pirata zarolho,

com perna de pau

com um tapa-olho

com cara de mau!

O velho charlatão, capitão

De um barco que tivesse por bandeira

Um par de ossos sob uma caveira.


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