sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Adeus às armas

O escritor argentino Martin Caparrós publicou esta coluna no jornal Critica Digital, onde expõe os claríssimos motivos pelo qual não precisamos mais das forças armadas. Nem lá, nem cá, nem de qualquer lugar:

[...]"A ultima vez –uma das poucas- em que o exercito de San Martin lutou contra estrageiros foi em 1982, nas Malvinas, e todos sabemos como acabou: a tonta soberbia de supor que uma banda de inúteis mal preparados e ainda pior equipados poderiam sequer amassar a lataria de um dos exércitos mais poderosos deste mundo. Tirando isso levamos, felizmente, mais de cem anos sem uma mísera guerra externa. E ainda mais: sem grandes chances de ter uma.

Mas é na paz que os exércitos costumam ter uma coisa que chamam “hipótese de conflito”. Há anos me pergunto qual hipótese de conflito real poderia sustentar o nosso exercito pátrio. Contra os ingleses, nem pensar – não há como não perder. Contra os birmanos, tchecos, vietnamitas do norte e outros demônios soviéticos seria complicado. Pra começar, porque teríamos que encontrar uma boa desculpa; depois, porque moram longe; e pra terminar, porque já não existem. Contra os franceses ou os índios ou os australianos também não parece muito lógico; restam, é claro, os vizinhos. A possibilidade de combater contra o Chile, suponhamos, por causa de dez léguas de geleiras continentais, ou contra o Paraguai pela água, ou contra o Brasil por um cassino no Iguaçu ou um pênalti mal marcado é cada vez mais tênue. O mundo de hoje está cheio de organizações e mecanismos para que isso não aconteça, e o nível de conflito que –eventual e remotamente- poderíamos chegar a ter com nossos vizinhos é perfeito para que seja solucionado por uma dessas instituições.

O que é muito bom porque, de todas formas, não estamos à altura. Nosso exercito –desprestigiado, descuidado, justamente reduzido e mal apetrechado- não seria capaz de combater dois dias contra o Brasil, que acaba de comprar 17 bilhões de dólares em aviões helicópteros e submarinos nucleares. Nem sequer contra o Chile, que também acumula “ferros” exageradamente. America Latina continua cheia de pobres, mas os nossos vizinhos estão desperdiçando fortunas: o gasto militar na região duplicou-se nos últimos cinco anos. O que nos deixa duas opções: somarmos desde trás nessa carreira caríssima que não podemos nos permitir e vamos perder de qualquer jeito, ou fazer da necessidade uma virtude e declarar que não precisamos de um exército. Transformar a Argentina num país desarmado – ou relativamente desarmado- e dizer que somos mais bons, razoáveis e maravilhosos. Talvez, ainda, alguém acredite. Nos mesmos, por exemplo. "

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