Mas é na paz que os exércitos costumam ter uma coisa que chamam “hipótese de conflito”. Há anos me pergunto qual hipótese de conflito real poderia sustentar o nosso exercito pátrio. Contra os ingleses, nem pensar – não há como não perder. Contra os birmanos, tchecos, vietnamitas do norte e outros demônios soviéticos seria complicado. Pra começar, porque teríamos que encontrar uma boa desculpa; depois, porque moram longe; e pra terminar, porque já não existem. Contra os franceses ou os índios ou os australianos também não parece muito lógico; restam, é claro, os vizinhos. A possibilidade de combater contra o Chile, suponhamos, por causa de dez léguas de geleiras continentais, ou contra o Paraguai pela água, ou contra o Brasil por um cassino no Iguaçu ou um pênalti mal marcado é cada vez mais tênue. O mundo de hoje está cheio de organizações e mecanismos para que isso não aconteça, e o nível de conflito que –eventual e remotamente- poderíamos chegar a ter com nossos vizinhos é perfeito para que seja solucionado por uma dessas instituições.
O que é muito bom porque, de todas formas, não estamos à altura. Nosso exercito –desprestigiado, descuidado, justamente reduzido e mal apetrechado- não seria capaz de combater dois dias contra o Brasil, que acaba de comprar 17 bilhões de dólares em aviões helicópteros e submarinos nucleares. Nem sequer contra o Chile, que também acumula “ferros” exageradamente. America Latina continua cheia de pobres, mas os nossos vizinhos estão desperdiçando fortunas: o gasto militar na região duplicou-se nos últimos cinco anos. O que nos deixa duas opções: somarmos desde trás nessa carreira caríssima que não podemos nos permitir e vamos perder de qualquer jeito, ou fazer da necessidade uma virtude e declarar que não precisamos de um exército. Transformar a Argentina num país desarmado – ou relativamente desarmado- e dizer que somos mais bons, razoáveis e maravilhosos. Talvez, ainda, alguém acredite. Nos mesmos, por exemplo. "
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