domingo, 30 de maio de 2010

Minha celebração do Bicentenário.


Comemorar uma data apenas porque é um número cheio não pareceria ser muito mais do que um ato arbitrário. E se essa data se refere ao fato de celebrar um acontecimento pátrio, não poderia encontrar menor repercussão numa pessoa como eu, que simpatizo com a famosa frase de Samuel Johnson, aquela que diz que a pátria é o primeiro refugio dos canalhas.

Mas também sei que uma festa é uma festa, e ela não tem porque ter motivos para acontecer quando existe o ânimo de festejar.

O fato é que há 200 anos a Argentina constitui o seu primeiro governo próprio, no dia 25 de maio. Uma série de eventos foram realizados no país, dentre os quais devo se destacar um desfile militar na av. 9 de Julio, que contou com representação das forças armadas de vários países da américa latina, incluido o Brasil. Aliás, o presidente Lula esteve presente junto com outros colegas prestigiando o evento, que curiosamente -ou não tanto- foi noticiado apenas burocraticamente pela imprensa brasileira.





Na foto, fachada do Teatro Colón, que depois de três anos fechado por reformas, reabriu no dia 24.

Os meus destaques virtuais do bicentenário são 2 páginas web especialmente criadas para a ocasião: a primeira é a oficial, que pode ser vista aqui. A segunda é a que o jornal Clarin criou, uma referência em termos de design. Nela há os resultados de uma grande enquete que foi elaborada nas semanas prévias, onde os argentinos declaram que preferem a democracia a qualquer outra forma de governo (90%) ; se reconhecem como "chantas"(algo assim como picaretas) mas também solidários, e declaram que Maradona e Borges são os que melhor representam a personalidade argentina. A maneira original em que os dados são apresentados merece uma visita, aqui. Na mesma página, há uma produção multimédia de fotos e áudio com o retrato e depoimento de 50 pessoas, a maioria desconhecidos, que para o jornal fazem um país melhor.


Eu, que acredito apenas que uma nação é aquilo que temos em comum, faço aqui o meu destaque do trabalho de alguns argentinos que os brasileiros merecem conhecer, e que por acaso nasceram na mesma terra onde eu nasci:

O grupo de instrumentos informais "Les Luthiers" são um grupo de músicos/atores que há mais de 40 anos vem fazendo rir à toda america hispana. Neste video, a desculpa de ouvir uma peça musical de cinema mudo faz com que o resto dos integrantes não tenham coisa melhor a fazer do que contar a estória do filme, sem palavras.



Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota. Esta banda rock começou na década dos 70, nunca apareceram na televisão e sempre editaram deus discos de forma independente. Entretanto, conseguiram se transformar no grupo mais importante do rock argentino, chegando ao ponto de fazer apenas um ou dois shows por ano, em algum lugar despovoado do interior do país, levando milhares de seguidores disposto a acompanhá-los aonde fosse. A música deste vídeo corresponde ao seu segundo disco "Oktubre" de 1985, e declara sua postura numa letra breve: "De regreso a octubre, desde octubre. Sin un estandarte, de mi parte. Te prefiero igual, internacional".


Quino. O criador da tirinha 'Mafalda' também foi um excepcional chargista, daqueles cujos desenhos não podem ser 'contados' para alguém, pois a imagem faz parte da piada.

Finalmente, um conto breve de Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores do século XX.

"O labirinto", por Jorge Luis Borges

Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.

A Borges pertencem os famosos versos, que ele escreveu no poema "Buenos Aires", e que talvez resuma um pouco da essência portenha:

No nos une el amor, sino el espanto. Será por eso que la quiero tanto.
Não nos une o amor, mas o terror. Deve ser por isso que a amo tanto.

Para finalizar, ia colocar uns videos de Diego Maradona, mas desisti. A ideia é que tenham simpatia por este post.

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