quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mas o Rio continua na merda...

O grau de alienação do carioca sempre me chamou a atenção. Desde que possa ir à praia e beber sua cervejinha num boteco da zona sul, é capaz de aguentar uma hecatombe nuclear na cidade e achar que está tudo maravilhoso.

Essa capacidade de ignorar (ou se acostumar) com o cotidiano da violência fica evidente na pesquisa do jornal O Globo de hoje, onde pergunta como se mobilizar na cidade sem ser torrado num veículo. Se fosse uma publicação de humor, seria uma ironia bem sacada.

Mas temo que não exista sarcasmo nessa pergunta. Assim que for inventada uma armadura moderna que possam vestir sem ser atingidos por balas, molotovs ou granadas, os cariocas voltaram a andar nas ruas do Rio, felizes e orgulhosos da geografia da sua cidade.


5 comentários:

Claudio Kezen disse...

Caro Gustavo,

Não se deixe levar por primeiras impressões. O carioca, obviamente, não é um só. O carioca é plural, diverso e multi facetado. O do tipo que quer que o mundo acabe em uma cervejinha num boteco da zona sul perto da praia, eu te garanto, é um estereótipo preconceituoso.

Eu morei no Rio de 1978 à 1992. Estudei e me formei em Arquitetura e Urbanismo na UFRJ. Como estagiário no IPLAN-RIO de 83 à 86, braço da Secretaria de Planejamento, trabalhei na formatação de mapas aerofotogramétricos que permitiram o posterior recadastramento de IPTU na admnistração Marcelo Alencar.

No trabalho de campo, pude conhecer de perto grande parte das chamadas Zona Norte e Zona Oeste do Grande Rio. Durante 2 anos, levantamos na Zona Norte dados acerca dos bairros do Méier, Tijuca, Andaraí, Grajaú, Lins de Vasconcelos entre outros.

Na Zona Oeste, Bangu, Padre Miguel, Realengo, Campo Grande também entre outros bairros foram mapeados no campo.

Só estes bairros englobam uma população de cerca 2 milhões de habitantes.

Quanto à Zona Sul, você acaba conhecendo por motivos óbvios quando se é jovem.

Claudio Kezen disse...

Além disso, vale lembrar que o Rio sempre esteve na vanguarda da luta contra a ditadura militar desde os primeiros embates da UNE contra os tanques de guerra da repressão.

Dali, o Jornal do Brasil e o Pasquim à despeito da censura institucionalizada, lideraram durante mais de uma década a imprensa escrita deste país pela liberdade de informação. Apenas mais tarde, a Folha de São Paulo iria se unir a este grupo.

Além disso o antigo MDB do Rio deu ao povo brasileiro a primeira vitória nas urnas em uma eleição armada para a antiga Arena, o partido da ditadura, ganhar de norte à sul do país. Um golpe mortal na propaganda oficial de então.

Também no Rio se deu o primeiro e o mais importante comício do movimento Diretas Já, na histórica Candelária, que então se propagou por todo o país unindo todas as forças democráticas de oposição à ditadura e pelo retorno ao Estado de Direito e que representou a “pá de cal” do governo mlitar.

Enfim, não deixe que uma pesquisa "enche-linguiça" do Globo, seja o pressuposto para um "achismo" sobre o que você não conhece.

Gustavo Alejandro disse...

Caro Cláudio, não desconheço a importância que os cariocas tiveram na política nacional.

Mas me parece evidente que esse grau de compromisso é mobilização não foi tão contundente na hora de demonstrar insatisfação com a situação de uma parte da população que vive fora da órbita de influência do estado.

O Carioca se acostumou com a favela; e com a violência dos traficantes e milicianos.

Inclusive me parece curioso que uma sociedade tão sensível à defesa da democracia e dos direitos sociais tenha-se 'permitido' conviver com favelas da magnitude da Rocinha ou o Complexo do Alemão. Elas apareceram de repente? Ninguém percebeu como cresceram ao longo dos últimos 25 anos?

Ah, sim...a culpa foi dos governantes populistas, apenas.

Claudio Kezen disse...

Caro Gustavo,

Não questiono a parcela de responsabilidade que cabe à todas as sociedades sobre suas mazelas. Apenas rebato o pressuposto, a meu ver equivocado, sobre a "alienação" reputada ao carioca. Por esse ponto de vista reducionista, seria válido pré supor que todos os americanos são ignorantes, todos os argentinos arrogantes, todas as brasileiras putas (as cariocas alienadas também, rs), todos os franceses esnobes, e assim por diante.

Repito, seu pressuposto é uma redução pobre e preconceituosa de uma questão mais complexa do sugere seu post.

Um abraço.

Gustavo Alejandro disse...

Claudio, reducionismo seria se eu dissesse, como você exemplificou, que TODOS os cariocas são alienados, o que não é o caso.

Ao me referir ao carioca, estou falando da sociedade carioca, que, como você escreveu, tem sua parcela de responsabilidade (o que não significa que TODOS os cariocas são responsáveis).

De todas formas, você está certo numa coisa: todos os argentinos são arrogantes.