O debate originado pela minha proposta de cobertura do canal Campos Macaé está rendendo pano pra manga no site do Urgente! Excelentes argumentos históricos, técnicos e sociológicos se confrontam de ambos lados.
Do lado ‘contra a cobertura’, estão Vitor Menezes, Rodrigo Rosselini, Wellington Cordeiro, Sergio Provisano e outros. Vale esclarecer que todos eles não concordam com a situação atual do Canal, mas defendem a revitalização das margens, a limpeza de suas águas e o controle dos despejos pluviais.
Do bando ‘a favor da cobertura’ nos situamos eu, Marcelo Bessa, Marcos Valério e (eu acho)a postista-mística Deborah da Vitória de Jesus.
A primeira coisa que fico obrigado a dizer é que não posso utilizar o argumento de que “é praticamente inviável” a restauração do Canal. Depois de sugerir a criação de um super-calçadão, está claro que a imaginação rola solta nesse debate e o que nos deve guiar é apenas nosso ideal acerca da cidade que queremos, sem importar o quanto difícil seria concretizá-la. Afinal, nada será feito mesmo: somos uma cidade pobre, nossos recursos indenizatórios mal podem pagar os salários dos servidores.
Mas tenho outros argumentos para defender a cobertura do Canal, no seu trecho entre o Mercado Municipal e o MacDonalds:
O primeiro, principal e que puxará os outros: o canal é feio e insignificante. Ainda revitalizado, ele não será mais de uma vala larga e extensa, onde inevitavelmente (e aqui sim é pertinente observar isso), depois de cada chuva, a sujeira das ruas da cidade se dirigirão, ainda que todos os despejos cloacais sejam obstruidos.
Como o Canal é feio, tenta ser defendido com os argumentos de que “é um feito da engenharia do século XIX” e de que “foi realizado pelos escravos”. Faz-se uma bela metáfora com o fato de que se estaria propondo 'cobrir pro baixo do tapete' a história campista.
Acho desnecessário esclarecer que sou contra a escravidão antes de dizer que os escravos fizeram o canal não por conta própria, mas por ordem dos brancos, da mesma forma que escravos foram ao Paraguai a matar e serem mortos sob o comando daqueles. Ninguém tira o reconhecimento de seu trabalho opressivo e infame, mas o Canal não deixa de ser uma idéia de brancos executada por negros. Esclarecendo: os escravos fizeram coisas boas e ruins na história do Brasil, mandados sempre pelos seus donos. Deve ser reconhecido seu sofrimento e seu trabalho, é claro, mas não suas obras como de própria iniciativa.
Enquanto à ‘proeza da engenharia’, repito: se ela realmente o fosse, seria mérito dos engenheiros. Talvez o tenha sido no século XIX, mas, aqui entre nós, que façanha é essa de mandar milhares de escravos a fazer um poço de 6 metros e muuuuuuito largo? Para mim, não passa de uma grande covardia. Li em algumas paginas que se compara ao Canal de Suez. A comparação nem sequer é válida pela extensão, são obras de magnitude e complexidade absolutamente desiguais. O Canal Campos-Macaé teve uma finalidade específica e para isso foi realizado. Funcionou enquanto foi útil e depois ficou obsoleto, com o advento da estrada de ferro. Agora, ele não é a pirâmide de Kéops, vamos combinar.
Finalmente, se ele foi coberto na década de ’60, onde hoje está a praça Alberto Sampaio, o que mal faria cobrir os restantes 400 ou 500 metros, até a av. Nilo Peçanha? Os defensores do canal teriam ainda mais de 100 km para venerá-lo, cuidá-lo e navegá-lo.
Não se trata aqui de priorizar o transporte veicular em detrimento dos pedestres, pois a idéia é utilizar a área coberta para construção de um espaço público parquizado, acrescentando apenas uma faixa a cada lado da avenida. Na situação atual, o transito fica engarrafado, devido ao sub-dimensionamento da avenida e ao acréscimo de veículos proporcionado pela ponte Rosinha Garotinho, situação que também se manteria com a proposta do Canal revitalizado. Liberamos nossa fantasia, mas pedir que haja menos carros é como pedir que haja menos população na cidade. E já que vamos ter um Super Calçadão, temos que permitir um lugar para eles passarem, ne?
Conclusão: o Canal é feio hoje. Ele nunca será revitalizado, e ainda que fosse continuaria sujo e bastante parecido com um valão.
Mas, atenção: não deixo de reconhecer se trata de um canal construído por escravos, sob o comando de engenheiros militares, para escoar a produção de açúcar dos fazendeiros do Império.
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